Este
tipo de tema costuma ser abordado nas provas de Política Internacional sem a
profundidade que ele costuma ser apresentado ao ser introduzido o estudo. No
entanto a não observância a seus conceitos, costuma deixar as pessoas perdidas
e sem ideia do que pode inferir quando conceitos como “equilíbrio de poder”,
“paradigma de segurança”, “estabilidade hegemônica” ou “poder dissuasório”
aparecem em disciplinas diversas, como economia, direito internacional,
geografia ou história. Por isso, abordo aqui uma pequena introdução aos
conceitos, atores, processos, instituições e paradigmas teóricos das relações
internacionais.
A
Teoria de Relações Internacionais tem basicamente três grandes debates[1].
Sendo que o mais conhecido é o chamado 1º debate, no qual o liberalismo e o
realismo apresentam perspectivas diferenciadas. Vamos, portanto, a partir
daqui, entender o que é esse liberalismo e realismo e no que eles se
diferenciam.
O
Liberalismo, chamado também de idealismo, tem a influência primária de três
grandes intelectuais: John Locke, um inglês,
Jean Jacques Rousseau, francês e autor de O Contrato Social e Immanuel Kant, se não me engano é alemão, autor
da obra A Paz Perpétua.
Immanuel
Kant, na obra publicada em 1795, diferencia o indivíduo do Estado, inferindo
que o indivíduo pode agir com razão e egoísmo, enquanto o Estado ao ser racional
promove a República. Bem diferente dos Estado de monarquias absolutistas, que
tem a tendência ao egoísmo.
Ainda
em Kant, não podemos deixar de considerar a busca pelo cosmopolitismo, o que
levaria à superação das fronteiras nacionais e assim se formaria uma espécie de
cidadania mundial, através de uma possível Assembleia
de Nações. É isso mesmo gente! Kant, no auspício da independência dos EUA,
em 1776, e da Revolução Francesa em 1789, já pensavam em uma assembleia de
nações. Hoje temos as Nações Unidas(ONU), fruto de um pensamento que já se
desenvolvia há mais de 150 anos.
Ainda
na perspectiva idealista das Relações Internacionais, temos o desenvolvimento
do liberalismo apontado por Norman Angell[2],
através da obra A Grande Ilusão e os 14 Pontos do presidente Norte Americano
Woodrow Wilson, defendendo a Harmonia de Interesses[3], a
cooperação entre estados e a superação do caráter endêmico da guerra, através
de uma organização internacional, concretizada na Liga das Nações[4],
criada após a I Guerra Mundial, caudada principalmente pela corrida
imperialista entre potências europeias, que tinham a herança do colonialismo
promovido pelo absolutismo e mercantilismo europeu do século XVI e, que se
traduziu pelo imperialismo como uma espécie de neocolonialismo.
O
paradigma teórico que mais debateu com o liberalismo foi o Realismo sob a influência de autores como Tucídides, da obra a
Guerra do Peloponeso, Maquiavel, da obra O Príncipe e Hobbes, da obra O Leviatã.
Thomas
Hobbes, na sua obra O Leviatã, introduz o conceito de estado de natureza, o
qual os seres humanos vivem em anarquia sob constante temor da morte em uma
situação de guerra de todos contra todos, no qual o “homem é lobo do homem”.
Então, por isso os indivíduos cedem parcelas da sua liberdade ao Estado, que é
o Leviatã, levando ao Estado Político que supera a anarquia do estado de
natureza.
Sob
esta influência, o realismo se desenvolve com Hans Morgenthau, quando lançou o
livro A Política entre as Nações, assim como outros intelectuais realistas como
Edward Hallet Carr e Edmond Aron, aplicado ao plano internacional, entende que
o sistema internacional é anárquico e, portanto inexiste um Leviatã, que
impediria a tendência ao conflito.
Em
um sistema internacional anárquico há um conflito
de interesses, pois há uma busca pela maximização de poder, então, neste
sentido, em um ambiente de desconfiança, a utilização de um sistema de
auto-ajuda(self-help) leva a um equilíbrio
de poder, no qual o Estado é o principal ator do cenário internacional.
Para
finalizar a abordagem realista é importante ressaltar os principais pontos
desenvolvidos na linha teórica de Hans Morgenthau, que na obra A Política entre
as Nações argumenta que os interesses dos Estados são definidos em termos de
poder e neste sentido a política imperialista é uma política de manutenção de
status quo ou política de prestígio. Portanto, enquanto o Liberalismo acredita
num jogo de soma positiva onde todos ganham através da cooperação em
instituições internacionais, o realismo acredita num jogo de soma zero,
permeada pela disputa pelo poder, seja para manter o status quo ou ocupar o lugar de poder no sistema internacional.
[1] O
primeiro grande debate foi as disputas entre realistas e idealistas. O segundo
grande debate era entre realismos versus behaviorismo e o terceiro grande
debate, após divergências entre realismo, institucionalismo e estruturalismo,
temos o debate entre racionalistas e reflexivistas.
[2]
Norman Angell foi político britânico, que escreveu a obra A Grande Ilusão,
defensor da interdependência econômica internacional e por isso acreditava que
a guerra para obter ganhos materiais não teria sentido.
[3] Edward
Carr, em sua obra 20 anos de Crise(1919-1939), nos diz que a Harmonia de
Interesses acreditava que os Estados ao promover seus interesses, acabavam
promovendo o bem comum(forte influência da economia clássica de Adam Smith)
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