lundi 4 juillet 2016

Diplomatas pretos: O início



    Somos um país chamado Brasil. Temos uma população brasileira junta, mas sócio-hierarquicamente não-misturada. No que tange as esferas de poder político, econômico e intelectual a população dita negra e indígena estão sub-representadas ou até mesmo não representadas.

      Quem conhece o Brasil no seu aspecto cultural, tem uma incrível sensação de festa das raças (conceito no sentido político e não biológico), pois parece tudo muito misturado, sobretudo nas expressões populares mais arraigadas, mais de raiz. Porém, basta um olhar mais atento, nota-se que as hierarquias sociais, baseada na cor da pele, estão bem mais definidas, bem mais rígidas, pois os tocadores de tambores, os dançarinos mais desenvoltos, geralmente são mais escuros, enquanto os representantes, os porta-vozes, os diretores de setores ou os presidentes geralmente são pessoas brancas ou mais claras, ainda que negras.

    No Brasil, onde na auto-declaração, ao menos 53% de uma população de mais de 200 milhões de habitantes, dizem-se negras - a união entre pretos e pardos - dificilmente se vê esse tipo de representatividade em várias esferas do poder político e, portanto, com obviedade na diplomacia. 
Existem várias explicações, baseada nos índices sociais, que demonstram com propriedade e com argumentos sérios, que  não se trata de um Estado ou instituições racistas ou até racializadas (em favor dos brancos), mas sim de um problema social que o Brasil enfrenta e que nos últimos anos, em governos mais progressistas, também chamados de esquerdas, que demonstram dados massacrantes para a desigualdade social no país.
      O problema é que muitos estudiosos, ao começar a fazer recorte racial nos seus estudos, sobretudo em cima de situações sócio econômicas de vulnerabilidade social, identificaram que não eram apenas 20%, 30%, 50% ou até 60% de uma parte da população que estava sendo prejudicada. Mas sim 70% ou mais da população estava sendo massacrada. Essa população é negra. As taxas de pobreza, as taxas de analfabetismo, as taxas de homicídios, as taxas de desempregados, as taxas de moradias precárias, as taxas de moradores de ruas, as taxas de mortalidade infantil, as taxas de morte em trabalho de parto, para a população negra são quase todas em patamares de cerca de 70%. 
Em outros países, em outras situações, talvez chamassem isso de perseguição a um grupo específico, a uma parte de uma população específica, a perseguição de um povo específico, caracterizando-se como genocídio, tal como aconteceu na Bósnia-Hezergovina, no Kosovo, em Ruanda, com os Judeus na Alemanha nazista. Mas não. No Brasil a questão é social. O povo é um só: o povo brasileiro. No Brasil existe população negra, população indígena, mas povo é apenas o brasileiro. O histórico social escravagista, mesmo que tenha mais do que um século e um quarto de século de finalizado, parece ainda impactar a sociedade brasileira.
      Escolhi a diplomacia, porque é uma carreira dificílima de entrar e muitos negros - ao menos os que conheço - que queiram entrar tem diversas lacunas no conhecimento para conseguir passar no concurso de admissão.
Como eu estou estudando para esse concurso e já fiz dois concursos anteriores. Acumulei um certo conhecimento que espero compartilhar para aqueles, sobretudo afro-brasileiros, que estejam estudando.
     Se cada pessoa tem uma missão na vida. A minha missão é fazer com que a população negra - ou o povo negro como preferem alguns mais radicais - possa viver em condições tão dignas quanto às pessoas brancas. E, que o  Brasil possa ser exemplo e modelo para o mundo de que pretos e brancos conseguem conviver de forma harmônica e pacífica. Só que para isso as pessoas negras tem que ser protagonistas dessa história. Elas entendem e tem maior sensibilidade para lidar com essa questão.
     O Itamaraty - o Instituto Rio Branco - já foi bem mais exigente e bem mais elitista, porém, hoje, através de uma política de ações afirmativas de cotas raciais para pessoas negras, uma bolsa-prêmio no valor de R$25 mil reais para pessoas negras que queiram ser diplomatas parece facilitar um pouco mais.
     Afirmo e confirmo: A prova da Bolsa não é tranquila e não é fácil de fazer. Mesmo que exija apenas Inglês, Português, História do Brasil e Política Internacional. A prova de diplomacia é mais difícil ainda, mesmo que exista a cota racial de 20%, sobretudo para quem não tem base. Mas não é impossível. Um pouco de dedicação, um pouco de abstração das questões sociais que você está com certeza envolvido vai te dar um pouquinho de chance. Boa sorte e boa prova para todos nós.

Obs1: Essas fotos são do Ministério de Relações Exteriores do pessoal aprovado na diplomacia em 2015.
Obs2: Fico meio incomodado de utilizar a palavra negro para definir cor de pele. Parece ser algo meio pejorativo, sobretudo quando não existe um antônimo quando nos referimos à pessoa branca.

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