Novos Atores no cenário internacional e os Estados Unidos
Os 25 anos de queda do Muro de
Berlim(1989-2014) nos lembram também as grandes mudanças que ocorreram na ordem
internacional quando os Estados Unidos venceram a União Soviética na Guerra
Fria e acabou possibilitando o surgimento de novos atores no cenário
internacional. A bipolaridade perdeu para a unipolaridade norte americana, que
cedeu espaço para um mundo crescentemente multipolar e questionador da
estrutura sistêmica surgida após a Segunda Guerra Mundial, exigente cada vez
mais de uma democratização nos espaços internacionais institucionais, mesmo
havendo resistências daqueles atores que tinham um maior poder dentro dessas
instituições.
As principais mudanças que podemos
abordar aqui são aquelas que reforçaram à formação de uma ordem mais multipolar,
através de países que tiveram mais recursos de poder como exemplo da Índia e do
Brasil. Estes estados atingiram uma maior maturidade, solidificando suas
democracias e estabilizando suas economias, assim como a China, após as
reformas de Deng Xiaoping[1].
Bem diferente do que aconteceu com a Rússia, que paralisou na sua transição
para o capitalismo e só recentemente que veio mostrando um revigoramento da sua
atuação no sistema internacional e agora muito mais multipolar, onde os Estados
Unidos tem cada vez mais um relativo declínio de seu poder, mesmo que sua capacidade
militar seja muito superior e sua economia seja o dobro ou o triplo da chinesa
e leve a uma situação de multipolaridade sob liderança americana, a
unimultipolaridade[2].
Nesta nova ordem multipolar o papel da
Índia, da China, do Brasil e da Rússia não podem ser relevados, assim como à
ascensão da África do Sul e da Indonésia, tendo uma importância na formação de
blocos de geometria variável, que a diplomacia brasileira tem atuado com
seriedade, como os BRICS, IBAS e o BASIC[3].
Alguns foros, extremamente importantes,
quanto a questão de distribuição de poder mundial, acabaram sendo também
levados nesta onda, como o G-20 financeiro e o G-20 comercial, uma vez que a
Rodada de Doha para o Desenvolvimento estava paralisada, devido a divergências
entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento. Neste sentido, a
paralisação no G-20 pode ser considerado um progresso, mesmo que não tenham
rendido frutos, segundo analistas de política externa brasileira, haja visto
que apenas os interesses dos países desenvolvidos estavam sendo considerados.
Essas divergência são, sobretudo, acerca
da agricultura como benéfica ao desenvolvimento, porém estes compromissos
acabaram sendo negligenciados e então o debate no G-20 da OMC ficou mais
acirrado quando Índia e China mostraram forte resistências quanto à
liberalização agrícola, devido a estrutura interna demográfica de seus países,
bem como a carência técnica no âmbito da agricultura e, uma desarticulação dos
setores agrícolas poderia levar a uma grande migração do campo para os já
abarrotados centros urbanos. Além disso, a pressão para os EUA reduzirem seus
subsídios agrícolas sem reivindicarem a contrapartida da liberalização dos
mercados não agrícolas(NAMA)[4] é
um outro ponto de divergência considerável, pois na negociação mandatada[5] na
rodada da OMC este compromisso já havia sido estabelecido.
As querelas existentes no G-20 da OMC
são dirimidas no G-20 financeiro, devido os países em desenvolvimento se
sentirem no mesmo barco e desta forma terem uma maior coesão nas suas
deliberações, alcançando um protagonismo muito maior do que o G-8, agora sem a
Rússia, devido aos problemas em relação à Ucrânia e a União Europeia.
Um dos maiores consensos no G-20
financeiro foi o compromisso pela reforma do Banco Mundial e do Fundo Monetário
Internacional através do aumento das quotas-partes para as nações emergentes[6]. Porém
nem tudo são flores, principalmente com a desvalorização cambial promovida pela
China com o Yuan desvalorizado, dando uma maior competividade à economia
chinesa, além do tsunami monetário[7]
que atingiu o Brasil, pela sua estabilidade, diminuindo a nossa capacidade
competitiva e exportadora, após os pacotes anticíclicos[8]
norte americanos que deram excesso de liquidez no mundo.
Por fim, podemos considerar às
iniciativas sul-sul promovidas pelos emergentes, embora os países não alinhados
tinham este papel como G-77 no passado, hoje, países como o Brasil, buscam contribuir
melhor para uma nova ordem global, menos assimétrica e mais justa, através de
contribuições concretas e não apenas uma retórica demandante, como tem mostrado
o seu exemplo através da liderança na MINUSTAH, ser credor do FM e
financiamento do Fundo IBAS para a redução da Fome e da Pobreza.
[1] Deng
Xiaoping implantou uma economia de mercado nos moldes capitalistas através de 4
modernizações: agricultura, indústria, ciência e tecnologia e militar. Atraiu
capital e equipamentos estrangeiros ao se reaproximar de Japão, Estados Unidos
e Rússia de Gorbatchev.
[2]
Uni-multipolaridade é uma conceito híbrido de Samuel Huntington que funde
características unipolares e multipolares, através de uma superpotência de
várias potências.
[3] BRIC(Brasil,
Rússia, Índia e China) é uma ideia concebida por Jim O’Neil, banqueiro de
investimento da Goldman Sachs, que se desdobrou ao adicionar o “S” da África do
Sul e formou outros grupos de geometria variável como o IBAS(Índia, Brasil,
África do Sul) e o BASIC(Brasil, África do Sul, índia e China).
[4] NAMA
é uma sigla em inglês que significa Non
Agricultural Market Access da Rodada Doha que envolve basicamente a
liberalização de produtos manufaturados, no qual os países em desenvolvimento
querem garantir maior acesso aos seus produtos de exportação aos países
desenvolvidos e perseguir políticas de fomento à industrialização.
[5] Negociação
Mandatada é o compromisso de negociar no futuro a negociação anterior, que não
foi exaurida.
[6] O aumento
de quotas-parte para o FMI, que no caso brasileiro passou de 2,2% para 2,3%,
veio aliado às reivindicações dos países emergente para conseguir ganhar maior
poder de decisão no FMI, tal como havia sido estabelecido em 2010 na reunião do
G-20 em Seul.
[7] Tsunami
monetário foi uma expressão utilizada pela presidente Dilma Rousseff no qual a
entrada de dólar, procurando economias mais estáveis, como a do Brasil faz o
real apreciar e assim as exportações encarecem, levando a perda de competitividade
dos produtos exportáveis brasileiros.
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