lundi 3 octobre 2016

Brasil, uma outra história - 2

HISTÓRIA PRETA DO BRASIL

PALAVRAS INTRODUTÓRIAS

  Para os novos historiadores há o desafio de desenhar as diversas estórias que compõem a história. Seguir cronologicamente os acontecimentos ditos por autores clássicos, ainda que útil, deixaram de ser, há longa data, precondições para discorrer sobre os acontecimentos da História do Brasil. Afinal, o ponto de vista interpretativo tem sido cada vez mais considerado diante dos fatos narrados pelos livros didáticos de história.
  Este livro tem o intuito de apresentar um olhar para a História do Brasil contextualizado com a História da África, assim como é feito na historiografia clássica acerca da História da Europa, que infelizmente é apresentada, no Brasil, como História Mundial. Sem polemizar e entrar no mérito das intensões de ser escolhida apenas a Europa para balizar o saber histórico brasileiro, nota-se a latente lacuna de generalizações acerca da entrada compulsória daquela que compõe, em 2016, o maior percentual da população brasileira: os chamados negros. Sem a pretensão de apresentar algo novo sobre a história, este trabalho pretende-se apena um articulador primário das diferentes histórias que cada povo carrega na sua bagagem social e cultural. Mesmo sabendo que o chamado povo europeu compõe-se de diversos povos diferentes, por vezes sendo unicamente pertencente a uma determinada região ou então ultrapassando as fronteiras nacionais das quais o senso comum parece estar habituado. Paralelamente o dito povo africano, originário de uma extensão territorial de mais de 30 milhões de quilômetros quadrados( cerca de 3 vezes maior do que o continente europeu) também tem a sua diversidade de povos e, portanto, de história e dinâmica social, que parece ser ignorada, em importância para compreender como se deu a dinâmica do nefasto tráfico transatlântico, bem como a escravização de africanos, que forçadamente foram parar no Brasil, através do protagonismo e das demandas da Europa. Como isso se deu? Será que os europeus chegaram com suas embarcações no continente africano e capturaram as populações para ser escravizados? Qual era a dinâmica da história africana para que isso fosse possível? Como foi o desdobramento da história europeia e africana ao longo dos séculos para a permanência desse tipo de relação? De que forma essa inter-contextualização euro-africana contribuiu para a História do Brasil?
     Alguém certamente deve questionar a participação e a história dos Índios/Indígenas/Povos Nativos do Brasil, bem como suas contribuições para a história brasileira, que sem sombra de dúvida é extremamente relevante. No entanto esse trabalho apresenta-se limitado na questão indígena, haja visto que os principais clássicos — fontes bibliográficas desse livro — também deixam a desejar nesse quesito. Esta obra, acerca da história indígena do Brasil, serve como incentivadora e impulsionadora para que um tema tão importante para a História do Brasil possa ser desenvolvido e dessa forma contribuir melhor para uma historiografia que considere todos os povos do Brasil.
   Apontar as fraquezas de uma obra tão ousada permite a liberdade de silenciar-se sobre determinados temas, que não sejam afeitos ao povo europeu ou ao povo africano e não incorrer em crassos erros, simplesmente por fazer elucubrações sem base científica e ter o desfecho de conclusões preconceituosas acerca da dinâmica dos povos indígenas para a História do Brasil.
Esse material tem como principal ênfase a história política e das relações internacionais estabelecidas entre as diferentes nações, sejam africanas, europeias e também brasileiras. Sem, contudo, negligenciar os demais temas, foca-se nas diferentes formas de organização políticas em construção ao longo dos séculos, seja na África, seja na Europa e como isso se conformou no Brasil, seja para implementar determinada organização político burocrático territorial, seja para resistir as opressões ou coerções advindas por essa implementação. Além disso, entendendo a importância da história da arte e da cultura para a conformação da sociedade brasileira, este trabalho procurou abranger este tema, uma vez que faz toda a diferença para a organização da resistência a escravização.
    No momento que escrevo essa obra tive embate com um professor na sala de aula que afirmou que não existe história relativa. A história é composta de fatos. Creio eu que apena intento elucidar alguns pontos da nossa história, infelizmente omitida por razões diversas. Reitero que o referido material é apenas um indicativo para posteriores desenvolvimentos interpretativos e contemplativos da História do Brasil. O incipiente conteúdo introdutório servirá muito mais como um motivador das linhas interpretativas que deveria ser apontadas em nossa historiografia.
    Vale lembrar que durante todo o período colonial e parte do período imperial do Brasil imperial, a África e os africanos foram importantíssimos para a política e a conformação da sociedade brasileira, mesmo que a historiografia oblitere ou até minimize o papel ativo da África na História do Brasil, os reflexos de nossa sociedade não nos deixem esconder. O fim do império até a ascensão de Jânio Quadros o contexto político africano ficou invisibilizado por nossas autoridades, o que certamente impactou na nutrição da cultura de matriz africana que permaneceu no Brasil. Justamente no período que o continente africano estava passando um dos mais momentos mais duros de sua história, que foi a colonização direta desde os finais do século XIX até o terceiro quarto do século XX. O regime militar autoritário do Brasil aproximou-se da África ao passo que as reivindicações do movimento negro do momento buscavam suas referências culturais na África da época e que tem retroalimentado, ainda que de forma escassa a política, o intelecto e a cultura do movimento negro contemporâneo da diáspora, limitado nesse livro a tratar sobre o Brasil.
    Confesso, com bastante humildade, a limitação de abarcar todos os assuntos relativos as relações africanas e brasileiras, porém, reforço que não seria meu maior objetivo nessa obra, muito pelo contrário, contento-me em conseguir ser apenas introdutório de tudo que é necessário para compreender essa profunda relação, que não foi de nenhuma maneira, acredito eu, superficial. Deixo aqui o meu compromisso em tentar complementar o ar artificialista, através de informações adicionais em notas de pé de página, contendo algumas bibliografias ou mesmo comentários.
    Quem ler essa introdução consegue notar que essa é uma obra prática, voltada para aqueles que gostariam de entender um outro olhar não-tradicional da História do Brasil, feita por alguém que ainda está se graduando na área de Relações Internacionais, tem apenas 31 anos de idade, não é acadêmico e tem a cor daqueles africanos que foram escravizados para exaltar os grandes feitos e nomes dos nosso país, descrito nos livros didáticos, nas ruas, nas homenagens monumentais, nos nomes de edifícios públicos e privados, das praças e quase tudo que se possa dar nome ou datas de pessoas.
    Ao terminar esta obra, que não sei quanto tempo deve durar a confecção, irei enviar para alguns colegas acadêmicos, especialistas em História da África ou na questão do negro no Brasil, afim de obter conselhos, aprovações para fazer desse trabalho algo mais robusto, respeitável e interessante. Desejo boa leitura a todos!

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